todos os dias eu choro um pouquinho.
quando percebo que muitos dos meus sonhos não são realizáveis.
quando noto que já esqueci o sabor do pernil assado da minha vó.
quando vejo o comercial de uma família feliz tomando café com margarina Qualy.
eu choro um tantinho, quando não tenho forças pra realizar as coisas que planejei e enfrento mais um dia paralisada pela ansiedade.
quando percebo que meu irmão cresceu e já não precisa tanto de mim.
ou quando todo mundo precisa demais de mim em um momento em que eu não consigo me doar e muito menos ser útil.
hoje chorei assistindo Moana de novo.
ontem fiquei aos prantos vendo anime.
e, à noite, quando eu e meu esposo estávamos assistindo nossa série do momento, e um casal muito apaixonado tinha seu final feliz, vi ele me olhando de cantinho, esperando as lágrimas caírem do meu rosto.
ele sabe exatamente as cenas que me emocionam: de avós em momentos fofos com seus netos a amigas fazendo as pazes após um desentendimento.
vez ou outra ele ainda diz “vai chorar, né?”. e pega na minha mão, porque sabe que a sentença nem precisa de resposta.
eu tô sempre chorando. a famosa manteiga derretida. tá no meu DNA.
você precisa ver quando estamos eu, meu pai e minha mãe juntos. é um aguaceiro capaz de inundar avenidas.
coisa de família…
a gente chora com reportagens sobre os povos originários, pensando na minha bisa e suas raízes indígenas.
choramos no incêndio do Museu Nacional.
choramos quando o inominável foi eleito.
e quando meu irmão competiu no primeiro campeonato de futebol.
eu chorei até no aeroporto, a caminho da minha lua de mel, pensando que, quando voltasse, tudo estaria diferente e eu não moraria mais com a minha família.
um choro doído e de soluçar.
a ironia é que nossas casas ficam a um portão de distância.
inclusive chorei no dia que publiquei o meu primeiro texto aqui.
eu não choro só pelas dores.
tenho lágrimas de todo tipo: alegria, ansiedade, medo, sobrecarga sensorial, encantamento, esperança.
tudo que eu sinto, eu sinto muito. me toca demais, machuca demais, alegra demais.
sem meio-termo.
nada de colocar só o pezinho. eu mergulho com tudo nas emoções e às vezes chego a me afogar.
é um horror.
mas é maravilhoso.
Inclusive, enquanto lia chorei um pouco
Com o passar do tempo o ser chorona se transformou em uma das melhores formas de me entender ksksksksk choro apenas para coisas que realmente importam.